16.10.22
Dos subúrbios do norte da capital, em Santo António dos Cavaleiros para o mundo, surge um dos pioneiros do afro drill em Portugal. Os Putos Maz Brutoz, mais conhecidos como PMB.
O grupo PMB inicia a conversa enfatizando a sua paixão pela música, afirmando que vivem exclusivamente do rap. A história do grupo remonta a anos de amizade e colaboração, com raízes profundas na sua comunidade na zona leste.
Eles expressam que, embora tenham enfrentado desafios, sempre encontraram apoio dos fãs, que incentivam a continuidade do trabalho que realizam. No entanto, ao serem questionados sobre o passado, o grupo revela que, se pudesse mudar algo desde 2014/2015, teriam lançado mais músicas e abordagens antes. Este reconhecimento do potencial não explorado gera um debate sobre as pressões que enfrentam na indústria e a expectativa de produzir apenas certos tipos de conteúdo. PMB discute a imagem frequentemente associada ao rap, particularmente a violência que permeia muitos dos seus temas.
Reconhecem que, embora a realidade seja difícil e a violência esteja presente em suas vidas e nas comunidades onde cresceram, eles desejam se afastar desse estereótipo. Essa é uma posição ousada, considerando que muitos artistas do género continuam a explorar e glorificar essa narrativa, colocando PMB em uma linha tênue entre a autenticidade e a responsabilidade social.
“Estamos cientes de que o dril pode ser visto como uma celebração da violência”, afirmam. “Mas queremos fazer mais. Não queremos ser rotulados apenas como um grupo que glorifica essa vida.” A tensão entre a realidade vivida e a representação artística é palpável, e eles se esforçam para ser uma voz de mudança, aspirando a inspirar a aceitação e a compreensão. Durante a entrevista, a questão do respeito surge repetidamente. Para PMB, o respeito é a base de tudo. Eles argumentam que a falta de respeito na sociedade contribui para a degradação das comunidades.
"A música é uma extensão de nós, e queremos que as pessoas sintam isso", explicam.
Esta abordagem contrasta com a abordagem mais agressiva que muitos grupos adotam e gera discussões sobre o que significa ser autêntico no rap. No entanto, há uma luta constante entre as expectativas do público e a necessidade de inovar. PMB reconhece que os fãs frequentemente querem ouvir dril, mas também desejam apresentar outros estilos. “Sabemos que as pessoas estão acostumadas a um certo tipo de música. O que queremos fazer é mudar essa percepção.
O rap pode ser muito mais do que apenas uma batida pesada e letras violentas”, afirmam, defendendo uma evolução em sua arte que reflete suas experiências e a diversidade da sua realidade. O grupo aborda a questão da aceitação de forma intensa, destacando que muitos jovens estão à procura de validação.
“Todos querem ser aceites pelo que são, e é isso que queremos transmitir. A música deve ser um espaço seguro para todos, não um lugar de julgamento”, afirmam,
Desafiando a norma da indústria musical, que frequentemente marginaliza vozes diversas. A conversa também toca em temas de rivalidade e competição.
Os PMB menciona a necessidade de apoiar outros artistas, destacando que, em vez de lutarem uns contra os outros, deveriam se unir. “A verdadeira força está na união”, afirmam, provocando uma reflexão sobre a competitividade que permeia o rap. A ideia de que o sucesso de um artista não deve ser visto como uma ameaça, mas sim como uma inspiração, é uma mensagem poderosa e desafiadora. Finalmente, o grupo reflete sobre a sua ambição de transcender o gênero e se estabelecer como artistas multifacetados.
“Queremos ser mais do que um grupo de rap. Queremos mostrar que temos visão, que podemos influenciar mudanças. O rap é apenas uma parte de nós”, dizem, desafiando a noção de que devem se limitar a um único estilo ou mensagem. A entrevista termina com um apelo à autenticidade e à reflexão.
Os PMB enfatiza que, embora enfrentem desafios, estão determinados a permanecer fiéis a si mesmos e à sua arte. Eles são mais do que apenas músicos; são contadores de histórias e defensores de uma mudança positiva. Este desejo de impactar a sociedade e elevar o rap a novas alturas é o que os motiva a continuar lutando contra as expectativas e a construir um legado que, esperam, inspire as futuras gerações.
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