18.06.23





Ovilton Fernandes Santiago, aka Real Guns, nasceu em São Tomé em 1988. Mudou-se para Portugal aos 4 anos para tratar um problema do coração e vive neste país desde então.



A conversa com Real Gunz revela um artista que, além de ser um rapper, é um defensor ardente da cultura e da identidade, não apenas no seu trabalho, mas também na sua vida diária. Ele fala sobre a importância de se manter fiel às raízes, enfatizando que a cultura deve ser representada e respeitada. A maneira como ele se expressa é um reflexo da sua visão de mundo e da sua experiência de vida, mostrando que para ele, a arte não é apenas uma forma de entretenimento, mas uma forma de resistência e reivindicação.


“Sou apenas uma pessoa que tenta criar algo novo, algo que não foi feito antes”, diz Real Gunz, destacando a importância da inovação e da originalidade.


Ele defende a ideia de que cada artista deve buscar a sua própria voz, uma mensagem que ecoa no rap contemporâneo, onde muitos se perdem na busca pela fama e pelo sucesso imediato. Gunz fala da sua inspiração em outras culturas, demonstrando uma abertura e um respeito que muitas vezes faltam na indústria. Para ele, aprender sobre diferentes tradições e modos de vida é fundamental para o crescimento pessoal e artístico. Real Gunz não esconde as dificuldades que enfrenta como artista. Ele fala sobre as pressões que surgem quando se tenta seguir um sonho em um ambiente que muitas vezes não valoriza a arte de forma genuína.


A luta para ser reconhecido e respeitado, especialmente no rap, onde a competição é feroz, é uma realidade que ele conhece bem. “Quando as pessoas perguntam o que faço da vida e digo que sou rapper, a reação nem sempre é positiva”, conta ele, expressando a frustração que muitos artistas sentem ao tentar se estabelecer em uma sociedade que muitas vezes subestima a cultura urbana.


Uma parte importante da sua mensagem é a necessidade de ter um propósito e uma visão. Ele acredita que a música deve ser um veículo para provocar mudanças sociais e promover uma mentalidade positiva, especialmente entre os jovens. Real Gunz fala da responsabilidade que sente em usar a sua plataforma para inspirar outros, reconhecendo que a juventude é o futuro e que é fundamental plantar as sementes de um pensamento mais construtivo. “Temos que mudar a mentalidade, não só das pessoas, mas da sociedade como um todo”, afirma, enfatizando que o verdadeiro impacto vai além da música.


O rapper critica a comercialização excessiva que permeia a indústria musical, sugerindo que, embora alguns artistas possam ganhar dinheiro rápido com hits, isso não significa que estejam fazendo arte significativa. Ele menciona que a música deve ter profundidade e ser uma reflexão do que vivemos.


“A cultura pop pode criar sucesso, mas isso não é arte”, diz, sugerindo que muitos estão mais preocupados em vender do que em expressar a verdade.


Essa é uma crítica válida, especialmente em um mundo onde a superficialidade muitas vezes ganha mais destaque do que a substância. Real Gunz também fala sobre a importância da união e do respeito entre artistas. Ele defende que a comunidade artística deve trabalhar em conjunto, apoiando-se mutuamente, em vez de se ver como concorrentes.


“A união faz a força”, é uma frase que ele repete, enfatizando que, para que a cultura do rap cresça de forma saudável, é necessário que os artistas se respeitem e colaborem.


Através de sua própria jornada, ele se esforça para construir pontes em vez de muros. Além disso, Gunz reflete sobre os sacrifícios que fez em nome da sua carreira, destacando que ser artista muitas vezes significa abrir mão de momentos com a família e amigos. Ele reconhece que essa é uma realidade difícil, mas acredita que, se a arte é feita com sinceridade e paixão, vale a pena.


“Eu estou onde Deus quer que eu esteja”, diz, reafirmando sua fé no processo e na sua jornada. Real Gunz é, portanto, um artista que não apenas faz música, mas que busca uma conexão mais profunda com sua audiência e com a cultura que representa.


Real Gunz quer que as pessoas sintam a sua arte, que reflitam sobre o que ele diz e que, acima de tudo, se lembrem da importância de ser autênticos. Ao falar sobre os desafios e as realidades da vida como artista, ele se torna um porta-voz de uma geração que luta para encontrar seu lugar em um mundo muitas vezes indiferente às suas lutas e aspirações.


O seu chamado à ação é claro: é hora de reivindicar o que é nosso, de celebrar a arte e a cultura, e de trabalhar juntos para um futuro melhor. “A arte é uma coisa que precisa ser trabalhada”, ele afirma, destacando que o verdadeiro sucesso não vem da fama, mas sim da sinceridade e do compromisso com a própria verdade.


Essa mensagem ressoa não apenas no rap, mas em todas as formas de expressão artística, lembrando-nos de que a verdadeira arte nunca deve ser esquecida ou ignorada.