03.07.22





Na certidão de nascimento é Bruno Lopes, mas desde pequeno que o chamam de TIMOR YSF. Deu os seus primeiros passos no Bairro da Horta Nova, onde cresceu. Nos sons passa o que lhe vai na alma, a crueldade e realidade das coisas que sente, vê e experiência.




Na profunda e impactante conversa com Timor YSF, realizada no bairro da Horta Nova em Lisboa, o artista revela-se não apenas como um músico, mas como uma voz ressoante que carrega consigo as vivências e as realidades de muitos. Desde o início, é claro que a sua trajetória é marcada por um intenso desejo de autenticidade em um mundo muitas vezes superficial, onde a pressão da indústria musical pode ser avassaladora. Timor fala da adrenalina dos palcos, da emoção de estar frente a uma plateia sedenta por conexão e por verdade. No entanto, essa pressão, que em muitos momentos parece ser um combustível, também se transforma numa fonte de ansiedade, um peso que ele carrega nas costas. Ele reflete sobre a dualidade que enfrenta ao subir ao palco, onde a necessidade de performar e impressionar se entrelaça com o seu compromisso de ser verdadeiro consigo mesmo. A sua luta não é apenas para entreter, mas para contar histórias que realmente importam, que tocam o coração e a alma das pessoas. "Não sou só um artista, sou um contador de histórias", diz ele, enfatizando que cada rima, cada verso, carrega a essência das suas experiências, as suas dores e as suas vitórias. A música é, para ele, um refúgio, um espaço sagrado onde pode desabafar e expressar as suas verdades mais profundas. A conversa toma um rumo emocional quando Timor aborda as questões de rivalidade no hip-hop, um tema que toca profundamente as suas convicções.


Ele desabafa sobre como essas rivalidades são frequentemente inflacionadas, criando um ambiente tóxico que impede a verdadeira colaboração e a celebração da arte. "O hip-hop deveria ser uma irmandade, não uma guerra constante", afirma com fervor, ao mesmo tempo em que compartilha suas frustrações com a maneira como a indústria tende a glorificar o conflito em detrimento do apoio mútuo. Para ele, as rivalidades não são apenas uma questão de egos; elas representam uma falha coletiva de reconhecer a beleza da diversidade e da inclusão na cena musical. Timor é enfático ao criticar a superficialidade que permeia a indústria, lamentando que muitos artistas se sintam pressionados a se encaixar em moldes pré-definidos para serem aceites.


Timor, fala sobre a importância de manter-se fiel à própria identidade, mesmo quando isso significa ir contra a corrente. "Não posso me esconder atrás de uma imagem falsa. A minha música é a minha verdade", ele declara, refletindo sobre o poder que a autenticidade possui para conectar-se com os outros de maneira significativa. A sua determinação em ser verdadeiro ressoa com muitos que também lutam contra as expectativas e os estigmas da sociedade. A conversa também se estendeu até ao estúdio onde Timor passa a maior parte do tempo e onde se sente verdadeiramente em casa.


Neste espaço, ele encontra conforto e liberdade criativa, um lugar onde pode explorar sem limitações a sua arte. É neste estúdio que as suas canções ganham vida, onde cada batida e cada letra são meticulosamente trabalhadas, refletindo as suas emoções e experiências. "Aqui é onde tudo acontece. É o meu santuário", diz, enquanto compartilha a sua paixão pela produção musical e pelo processo criativo. O artista toca na questão da inclusão dentro do hip-hop, fazendo um apelo sincero para que se dê espaço a novas vozes. Ele acredita que a diversidade é uma riqueza que deve ser celebrada, e que o hip-hop deve ser um espelho da sociedade em que vivemos, refletindo as suas múltiplas facetas e realidades. "Por que alguns artistas têm que ser os únicos a brilhar? Todos nós temos histórias a contar", diz Timor, expressando a sua frustração com a falta de oportunidades para aqueles que, embora talentosos, permanecem invisíveis à medida que a indústria continua a priorizar as mesmas vozes de sempre. Quando fala sobre o seu processo criativo, o artista revela uma paixão ardente pela música.


Compartilha que tem um arsenal de canções prontas para serem lançadas, mas também enfatiza a importância de dar espaço para a reflexão e a autenticidade. "Cada letra que escrevo é uma parte de mim. Eu não posso apressar isso", explica, enquanto menciona a necessidade de ser paciente e respeitar o processo criativo, mesmo em um mundo que muitas vezes exige resultados imediatos. Essa conexão profunda com a sua arte é o que o impulsiona, permitindo-lhe transmitir mensagens poderosas que ressoam com o público. No final da conversa, Timor deixa uma mensagem de esperança e transformação. Ele convida os ouvintes a unirem-se em torno da autenticidade, desafiando-os a olharem além das aparências e a valorizarem as histórias que são contadas através da música. "Sejamos todos verdadeiros uns com os outros.


O hip-hop deve ser um espaço de inclusão e solidariedade", diz ele, enquanto suas palavras ecoam na sala. A sua visão é clara: um hip-hop que não só entretém, mas que também educa e transforma, que celebra a diversidade e dá voz aos que muitas vezes são silenciados. Essa conversa com Timor YSF é uma poderosa lembrança de que a música é muito mais do que uma forma de arte; é um veículo de mudança social, um espaço onde as vozes dos marginalizados podem ser ouvidas e reconhecidas. Através da sua paixão e dedicação, Timor demonstra que o hip-hop pode ser uma força unificadora, capaz de construir pontes entre diferentes comunidades e de inspirar uma nova geração de artistas a se levantarem e contarem as suas próprias histórias.


A sua mensagem é clara: que todos nós, independentemente das nossas origens, possamos encontrar coragem para sermos autênticos e para apoiar uns aos outros sem egoísmo.